“Levantou a caixa, que repousava no muro de granito coberto de musgo que separava Luísa do rio, e deixou-a, lentamente, virar-se em direcção à corrente que passava. As cinzas, de um cinzento típico de quem não sabe de que cor pintar a morte, escorreram lentamente pelos sulcos térmitos da madeira, parecendo cair e queda livre em busca de um repouso vertiginoso; mas, a meio caminho entre o cair e o molhar, o vento fez das suas e atirou com Júlia por toda a marginal, transformando aquele cinzento de um nada que parecemos ser, num espectáculo de luz e cor da vida que podemos dar. Luísa deixou então soltar um sorriso que acalmou as lágrimas que escorriam reflexos de saudade, onde pairavam já algumas cinzas que não quiseram partir na corrente; e abraçou-se, só.”
